quinta-feira, 19 de junho de 2008

Ações contra a dengue
Marcos F. Moraes
Presidente da Academia Nacional de Medicina


A Academia Nacional de Medicina, preocupada com a epidemia de dengue de proporções inusitadas que assolam o nosso país e com o crescente número de mortes que vêm ocorrendo em diversos estados brasileiros, e em função dos objetivos do seu estado, que no capítulo II artigo 2º estabelece que “a Academia Nacional de Medicina foi fundada especialmente para responder a perguntas do governo, sobre tudo o que interessar à saúde pública e principalmente sobre as epidemias...”, sugere medidas de curto, médio e longo prazo para debelar este e outros agravos à saúde pública que vem se alastrando pelo Brasil.
A Academia Nacional de Medicina reuniu o seu corpo acadêmico em 17 de abril para debater o tema “Dengue no Brasil: uma tragédia anunciada”, que suscitou uma intensa discussão, particularmente sobre os seguintes aspectos:
1) A fragilidade do SUS no atendimento quantitativo e qualitativo dos casos de dengue.
2) A inadimplência de grande parte dos municípios brasileiros no controle da doença e de sua transmissão, que se arrasta há mais de duas décadas, com altas e baixas ao sabor da sazonalidade que inibe ou estimula o crescimento do vetor e pela própria imunidade da população atingida.
3) A incompetência técnica e da força de trabalho para o controle de vetores que se instalou no país após a descentralização das atividades sanitárias para os municípios, particularmente em relação à malária na Região Amazônica e à dengue em todo o território nacional.
4) Apesar da reconhecida subnotificação dos casos de dengue, a doença aumentou no país entre 1986 e 2002 em mais de 1000%, e nos quatro primeiros meses de 2008 já tivemos mais mortes do que na epidemia de todo o ano de 2002, além de um aumento no número de casos superior a 300% no mesmo período.
5) Esses números demonstram a incapacidade do atual Sistema Nacional de Saúde de controlar a doença e apontam para a necessidade de novas estratégias de controle.
Diante do notório fracasso no controle da transmissão da dengue pelo Sistema Nacional de Saúde e até mesmo da atenção à doença pelo SUS, o plenário da Academia Nacional de Medicina sugere as seguintes medidas:
1) Organização de forças-tarefa pela Secretaria de Vigilância em Saúde com técnicos da FNS, de institutos de pesquisa e de universidades (epidemiologistas, entomologistas, virologistas e clínicos) para orientar estados e municípios no controle da dengue e de outras endemias.
2) Financiamento adequado para um programa de saneamento básico, controle e vigilância de doenças transmissíveis por vetores, independentemente da posição política dos governantes de estados e municípios.
3) Fiscalização do desempenho de estados e municípios, através do monitoramento de doenças transmitidas por vetores, premiando os de bom desempenho e intervindo, nos limites da lei, nos de desempenho precário, uma vez que os vetores não respeitam fronteiras e prejudicam o controle das unidades vizinhas.
4) Reestruturação do SUS, adequando a remuneração profissional de acordo com o mercado, a fim de que estados e municípios mantenham profissionais qualificados com a devida estabilidade.
5) Reorganizar a Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério, com um corpo permanente de técnicos, a fim de que suas ações sejam contínuas, mantendo as ações básicas de saúde pública, em consonância com o dirigente da pasta responsável pelas diretrizes políticas, a exemplo dos países com pleno desenvolvimento.
6) Estimular a educação das crianças, objetivando a conscientização da importância da responsabilidade de cada um no controle e na prevenção das doenças transmitidas por vetores.
Fonte: Jornal O Globo - 13/05/2008

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei muito oportuno o blog e sei que será de muita utilidade como material para consulta. Portanto, felicito os idealizadores e acho interessante que continuem a desenvolver conteúdos.
Como sou da área da saúde gostaria de deixar algumas reflexões, que me inquietam, sobre a saúde no nosso país:
A dengue nos faz questionar quanto à eficácia das políticas públicas que temos voltadas para prevenção e promoção da saúde. Vemos total deterioração da infra-estrutura da saúde, onde há redução dos recursos humanos e financeiros. Não há por parte do governo uma atenção voltada para o desenvolvimento integrado, em todas as fases, que venha a proporcionar aquilo que se entende por TER SAÚDE.
Prevenção passa por políticas sérias com um processo continuado e sustentado, como:
 Combate e controle do vetor através de equipes multidisciplinares, que possam perceber como surgem os criadouros no subsolo, galerias, obras, locais inabitados ou abandonados, objetos inservíveis e plantas em geral.
 Programas educativos, veiculados pela mídia, que esclareçam à população quanto ao seu papel de cidadãos integrados ao meio ambiente e portanto, responsáveis pelo mesmo.
 Pelo investimento em pesquisas, para que o país chegue à auto-suficiência na produção de imunizantes (vacinas), eliminando a possibilidade da instalação de um processo epidemiológico.
 Profissionais capacitados e em número suficiente para um atendimento precoce com diagnóstico acertivo.
A inércia e omissão tanto governamental quanto populacional são fatores que contribuem para um país adoecido.